terça-feira, 18 de novembro de 2008

Os limites da linguagem que limitam o Mundo...

Após a realização desta tarefa todos os grupos apresentaram as conclusões a que chegaram. Deste modo foi possível focar aspectos relevantes sobre os quais será importante aqui reflectir. Assim, verificou-se que a linguagem técnica utilizada, dadas as suas características já referidas, não permite divergência de interpretações. A sua objectividade conduz-nos a fazer rotulações e categorizações, não tendo em conta o indivíduo e a sua característica tão única e especial que é ser um ser biopsicossocial. Com o objectivo de nos permitir realizar diagnósticos clínicos, tentam enquadrar-se as dificuldades de um sistema nas categorias “impostas” por este tipo de linguagem, que nos restringe. Neste sentido, realizar um diagnóstico implica, segundo Anderson e Goolishian (1996, in Sequeira, 2003), enquadrar a dificuldade em causa nas diversas categorias definidas no sistema descritivo utilizado, à medida que vão surgindo padrões e semelhanças entre estas. Pressupõe-se, assim, que a linguagem utilizada é abrangente e representativa, permitindo descrever a realidade, tal como acontece com a DSM-IV. Ainda se tivermos em conta este manual de diagnóstico, podemos concluir, que um diagnóstico mais não é do que uma construção social de uma forma de interpretar a realidade, baseada na definição de significados que sejam utilizados e compreendidos pelos profissionais em questão, como forma de entender um determinado contexto e comunicar acerca dele (Sequeira, 2003). Ainda como afirma Sequeira (2003), “um diagnóstico pode ser um acordo linguístico, entre participantes, que confere sentido a um dado comportamento”. Tal julgamento tem como objectivo reunir esforços para “consertar” (normalizar) o que é considerado socialmente, ou pessoalmente, indesejável. E são esses “planos de tratamento” que levam a rotulações/estigmatizações, esquecendo-se que a doença está presente num indivíduo. No entanto, tal como afirma Watzlawick (in Relvas, 1999, p.61) “os sistemas são demasiado complexos” para poderem ser caracterizados tão superficialmente.

Relevante será também referir que a ambiguidade e abrangência que caracterizam a linguagem do senso comum implicam que não seja linear chegar a uma classificação através do discurso narrativo. Para o analisar temos que ter sempre em conta o contexto e “o conjunto de relações concretamente observável na comunicação que se estabelece entre os seres humanos” (cit Relvas, 2000, p. 436), isto é as interacções. Estaremos, assim, a realizar uma compreensão interaccional da psicopatologia, baseando-nos no modelo ecossitémico. Este não considera que o problema está focado no indivíduo, salientando as relações deste no seu contexto, alternando a forma de intervir (Relvas, comunicação informal, Novembro 2008). Apesar disso, o modelo sistémico, tal como qualquer outro modelo, pode cair em interpretações baseadas nos nossos próprios pressupostos, como pode ocorrer, por exemplo, na tentativa de definição do grau “clinicamente significativo” de uma perturbação. Estas margens de indefinição, que o modelo sistémico tenta ultrapassar através da análise do contexto, são tratadas de forma distinta de acordo com cada modelo (Relvas, comunicação informal, Novembro 2008).

Um comentário:

Anônimo disse...

Ok só falta a questão da rotulação