terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Visões Múltiplas" - História Apresentada

O Sr. António, pessoa tímida e reservada, sempre utilizou o comboio para fazer o trajecto que mediava entre o seu local de residência e a cidade onde trabalhava.
Certo dia, estando já acomodado e aguardando a partida do comboio, é surpreendido pelos gritos de um homem de meia-idade, de aspecto tresloucado que se dirige na sua direcção, ocupando o acento disponível ao seu lado. Repara então que se fez silêncio absoluto e que todos os passageiros observavam com atenção. O homem tresloucado interrompe os gritos e começa a recitar um monólogo intercalado com perguntas, às quais o Sr. António não dá resposta. Envergonhado e constrangido com a situação, no silêncio do seu pensamento pensa numa forma de se livrar daquele embaraço- Ignoro-o, não respondo e olho para a janela, ou me levanto e mudo de carruagem?”. Depois de tentar a primeira hipótese e de verificar que a mesma não dava resultado, pois o homem tresloucado continuava com o mesmo discurso filosófico incoerente, levanta-se e dirigi-se para outra carruagem. Naquele momento e enquanto se afastava, propagou-se por toda a carruagem uma forte onda de aplausos. “Ainda aplaudem pelo facto deu não ter suportado a companhia daquele homem! Que falta de educação. ..”- pensou o Sr. António. Já sentado noutra carruagem e corado de vergonha, o Sr. António tenta destilar a sua perplexidade e confusão. Enquanto pensava no sucedido é surpreendido pelo revisor que sorrindo lhe pergunta: “Então?! O que achou da cena?... foi divertido, não?!”. “Nem lhe respondo... Como podem permitir isto e ainda por cima achar divertido! !?”- Contesta o Sr. António chateado. “Mas você está a discutir comigo? Como se atreve? Se não estava a gostar ninguém o obrigava a estar ali. ..”- respondeu o revisor. A discussão prolongou-se num tom de agressividade crescente (...).
Num cartaz ali colocado podia-se ler: “vamos levar o teatro ao comboio”. No entanto, o Sr. António, nunca o chegou a ler.
Nos dias seguintes, o Sr. António, que já era uma pessoa tímida, evitou falar com os outros passageiros pois pensava que todos o olhavam de forma diferente. Cada vez mais inibido e envergonhado, começou a isolar-se ainda mais e a não falar com ninguém. As pessoas que habitualmente se cruzavam com ele naquele comboio começaram a prestar mais atenção ao seu comportamento e quanto mais isto acontecia mais o Sr. António se sentia observado. Com o tempo, o Sr. Começou a evitar as pessoas. Estas, por sua vez, receosas e apreensivas também deixaram de falar para ele ao ponto de evitarem estar na sua presença (...). Em pouco tempo o Sr. António tinha-se tornado no centro de todas as conversas. Uns especulavam que estava a ficar louco, outros abstinham-se de comentários, mas todos se mantinham interessados nos vários comentários balbuciados (...).

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