terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Visões Múltiplas" - Visão do Passageiro Habitual

Como habitualmente apanhei o comboio para ir para o trabalho. No dia anterior havia reparado num cartaz alusivo a uma peça de teatro que iria decorrer no comboio regional. Estava ansioso para que a peça começasse! “Que bela forma de começar o dia!” Assim, tentei sentar-me na única carruagem que me permitia ver a peça. Aí vi os mesmos rostos de sempre. Pouco depois ouvi os gritos tresloucados de um homem de meia idade e percebi que a peça ia começar. O actor dirigiu-se para um dos tantos passageiros habituais, que sempre se mostrou uma pessoa reservada. Fiquei maravilhado com o desempenho do actor e todos batemos palmas. No dia seguinte voltei a encontrar, no mesmo local, o senhor que estava junto ao actor e relembrei a cena do dia anterior. Sorri-lhe mas o senhor não retribuiu, virando a cara. Dia após dia comecei a reparar que o senhor estava cada vez mais estranho, com um ar carrancudo, isolando-se no fundo da carruagem, não havendo mais os cumprimentos rotineiros que sempre existiram: um bom dia, um acenar de cabeça… As pessoas começaram a comentar que ele estaria louco. Pensei em aproximar-me de uma cara que, afinal, me era conhecida do dia-a-dia, mas tive medo. Prevaleceu a questão: “terá ficado louco?”.

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